A aposta da Stellantis em tecnologias 3D e 4D para se tornar uma tech car
Um anúncio recente de vagas no perfil da Stellantis South América no Linkedln para as áreas de tecnologia e software é o indicativo. O grupo automotivo formado pela montadora Fiat, além de outras 13 marcas, está em busca de profissionais para reforçar dois setores fundamentais na missão da montadora de se tornar uma tech car (empresa de carros tecnológicos na tradução para o português). A estratégia envolve o desenvolvimento de soluções em produtos e serviços com ênfase em eficiência energética, redução de emissões, carros tecnológicos. “A Stellantis está investindo mais 30 bilhões de euros até 2025 para desenvolver software e transformação de eletrificação”, afirmou Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul. “Fazemos parte de um ecossistema com empresas que operam no campo da tecnologia de ponta. Isto nos torna uma companhia mais ágil, capaz de gerar produtos e soluções personalizáveis, porque a mobilidade sustentável é pensar sobre automóveis, mas também a respeito de pessoas e do acesso delas às oportunidades.”
Como funciona
A associação da tecnologia aos produtos e aos processos produtivos, na visão do executivo, torna o cliente “o centro, a razão de todas as soluções tecnológicas”, disse. E o carro passa a ser um marketplace, uma continuação da vida conectada do usuário, que a partir do interior do veículo tem acesso a compras, entretenimento, além de outros serviços. “Estamos empenhados em desenvolver softwares que deem suporte à eletrônica embarcada, que será cada vez maior e mais complexa.”
E basta uma visita pela planta da montadora em Betim, Minas Gerais, para perceber o quanto a tecnologia está integrada aos processos diários. O Tech Center, complexo de engenharia automotiva capaz de desenvolver qualquer projeto a partir do zero. O destaque do setor é o Virtual Center, que integra inovações do mundo digital à engenharia. Idealizado após investimentos de R$ 4,1 milhões, ele está dividido em três áreas: sala de realidade virtual, sala integrada e oficina.
Na sala de realidade virtual, há a possibilidade, com auxílio de óculos 3D, captar imagens do veículo como um todo. E, com o uso de joysticks, realizar interações. “É possível retirar a bomba de combustível, simulando uma troca na concessionária”, afirmou Marcus Paulo, gerente de engenharia de produtos da Stellantis. “E no ambiente virtual é possível identificar se existe dificuldade na substituição desse componente pela equipe da assistência técnica, de modo a ser possível fazer os ajustes técnicos ainda na fase virtual.”
NNa sala integrada, as interações são feitas em um cockpit adaptável, com as medidas reais do veículo a ser analisado. Nesse ambiente, a relidade virtual é em 4D. Com o uso de óculos de realidade virtual imersivo, integrado ao sistema wireless, a sensação é de estar dentro de um carro. A interação também pode ocorrer com o uso de luvas eletrônicas, que possuem sensores capazes de reproduzir os movimentos das mãos no ambiente virtual. E na oficina, após a validação digital, tem início a construção de modelos físicos dos componentes internos e externos do novo veículo, como farol, console e lanterna, por exemplo. Os materiais utilizados na construção desses protótipos são resina, fibra de carbomo, fibra de vidro e impressão 3D.
A proposta da Stellantis para se tornar uma tech car envolve ainda a redução de emissões desde a produção. Somente o uso de chips e softwares nos veículos possibilita a eliminação de 25 quilos de cabos, por exemplo. De olho na descarbonização, a meta é diminuir em 50% a pegada de carbono até 2030 e atingir 100% até 2038. E a principal estratégia inclui a ampliação do portfólio de veículos eletrificados. “Planejamos expandir o mix de vendas do segmento para 100% na Europa até 2030, para 50% nos Estados Unidos e 20% na América do Sul”, disse João Irineu, diretor de Compliance de Produto para a América do Sul.
No caso brasileiro, a combinação de eletrificação com etanol é o grande diferencial que permitirá uma descarbonização de baixo custo. A empresa busca parceiros entre os fornecedores para desenvolver componentes no País, incluindo baterias. Segundo Irineu, a Stellantis pretende intensificar o projeto de um híbrido flex, considerado o melhor caminho na transição para o elétrico. Ele não antecipou data de lançamento e modelos. O segmento de eletrificados do grupo tem os modelos Fiat 500e, Peugeot e-208GT, furgões Citroën Ë-Jumpy, Peugeot e-Expert e e-Scudo, além do Jeep Compass 4xe híbrido plug-in.